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18/03/2013

O projeto espacial que o Brasil não vai fazer

Reportagem no portal Terra de ontem (17/03/2013) fala sobre o projeto de um grupo de universidades brasileiras de lançar uma sonda que pousaria num asteroide a onze milhões de quilômetros da Terra, o maior componente do sistema triplo 2001 SN263.
A sonda, que seria lançada por um foguete russo, porque o Brasil, que começou o seu programa espacial ao criar o  Centro de Lançamento de Barreira do Inferno em 1965    até hoje ainda não conseguiu viabilizar o seu próprio veículo  lançador espacial (para quem não se lembra, o projeto VLS ficou praticamente parado desde o acidente de 2003, em que um dos foguetes explodiu e matou 23 técnicos que estavam na plataforma de lançamento do Centro de Lançamento de Alcântara, até o ano passado, quando começou a ser retomado), seria a primeira espaçonave a pousar num sistema triplo de asteroides, e realizaria um programa de testes depois de pousada.
A missão "Aster", que começou a ser pensada em 2008, e que pela reportagem tem um custo previsto de 40 milhões de dólares, traria importantes benefícios de pesquisa e daria um impulso muito necessário ao nosso claudicante programa espacial. O professor Antonio Gil Vicente de Brum, um dos responsáveis pelo projeto, diz na reportagem quem além dos resultados de pesquisa que acabam sendo incorporados à nossa vida no dia a dia, um dos principais objetivos do projeto é "aprender mais a respeito de corpos celestes que se aproximam da órbita do nosso planeta e ameaçam populações terrestres".
Não preciso lembrar a vocês a sequência recente, dentro de um período de pouco mais de um mês, da passagem  muito próxima da Terra de dois asteróides de grande tamanho, um deles dentro da região em que orbitam nossos satélites de comunicação, e da explosão de um menor sobre a Rússia com grande dano material e quase mil pessoas feridas.
Nem de lembrar a vocês que os investimentos feitos até hoje pelo mundo  na pesquisa espacial já retornaram seus custos multiplicados por muitas e muitas vezes, em praticamente todos os campos da ciência.

Imagem do site Astropt.org

Pois a missão, que já está estruturada, com muitos componentes projetados, e com a cooperação com a Rússia já em entendimentos, corre o risco de não ser realizada porque, segundo explica José Monserrat Filho, chefe da Assessoria de Cooperação Internacional da Agência Espacial Brasileira, "Neste momento, o governo brasileiro não tem condições de manter este projeto. Não há dinheiro disponível. Ninguém é contra. Ninguém quer criar obstáculos. A ideia é, através do Inpe, buscar apoio financeiro na iniciativa privada, e pública também, como a Petrobras. Seria ótimo se a Petrobras pudesse financiar esse projeto, por exemplo. Sem verba, não tem nada aprovado. A base de apoio financeiro não existe".
Dizer que o governo brasileiro não tem condições de financiar um projeto destes é risível, num momento em que, apenas para erguer as estruturas provisórias (notem bem, provisórias) exigidas pela FIFA para abrigar seus representantes seus convidados VIPs e os jornalistas internacionais durante a Copa do Mundo de Futebol foi aprovado um gasto extra de sessenta milhões de reais, ou pouco menos de trinta milhões de dólares. Sem falar nos custos totais da Copa do Mundo, de duvidoso retorno para o país.
Num momento em que se anuncia a criação de mais um ministério, além do número recorde de 38 existentes, apenas para se abrigar mais um parlamentar aliado com vistas à campanha eleitoral para 2014. Estamos com 39, daqui a pouco chegaremos a 40. Cuidado com esse número...
Num momento em que o Brasil (antes da criação do novo ministério) tem quase 24 mil cargos de confiança enquanto a Inglaterra tem 300, a França  4 mil e os Estados Unidos 8 mil...
Ou, para fazer outra triste comparação, num momento em que o orçamento anual do Senado Federal é de 3,4 BILHÕES de reais, para 81 senadores, o que significa que cada um dos senadores custa aos cidadãos brasileiros a bagatela de 42 milhões de reais por ano, ou um pouco mais de vinte milhões de dólares. País nenhum do mundo chega nem perto deste gasto.
Sem falar na ingenuidade, ou idiotice, de querer que a Petrobras, que tem amargado prejuízo em cima de prejuízo para a empresa e para seus acionistas pela política equivocada de manter o preço da gasolina artificialmente baixo para tentar conter a inflação, seja a financiadora do projeto.

O nosso governo quer vender ao mundo a imagem do Brasil como uma verdadeira potência emergente, como a sexta economia do mundo, como um país capacitado a fazer parte do Conselho de Segurança da ONU, mas não sabe priorizar os investimentos que podem realmente nos colocar nessas posições.

A reportagem do Portal Terra está em
http://noticias.terra.com.br/ciencia/espaco/sem-verba-projeto-brasileiro-de-levar-sonda-a-asteroide-segue-na-prancheta,5c71acd3b4f6d310VgnVCM5000009ccceb0aRCRD.html 
ou (link encurtado)
http://tinyurl.com/ble4m7o